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El Desenfado Cromático | Texto Crítico
El País | Montevidéu, Uruguai | 1993
Alicia Haber

Uma explosão de cor sacode as paredes veneráveis da Galeria Moretti. É saudável neste país da cautela e mesura, sempre inibido na hora das mudanças, ver como um espaço tradicional abre suas portas ao desenfado. Com espirito inovador a venerável instituição que até faz muito pouco tempo apresentava figuras magistrais como Pedro Figari ou Carlos Gonzalez ou pintores de cavalete bastante tradicionais, se lança a esse mundo de shock estético do cromatismo exaltado. É toda uma lição para os que sempre apostam á seguridade, para os pusilânimes, para os retinarios e para os que subjugam toda iniciativa removedora. E essa atitude está além dos méritos concretos de tal o qual artista.

Nesse caso a abertura parece estar bem encaminhada. Victor Lema Riqué é um pintor uruguaio (Montevidéu, 1955) radicado em São Paulo que tem um oficio sólido e um chamativo uso da cor que se expande em formatos enormes. Aplicando a temática originada no comic, na televisão, na publicidade e na sociedade de consume á que satiriza com irreverência pós moderna, Lema Riqué, faz explodir vermelhos, violetas, amarelos e azuis de forma muito gostosa.

As telas avançam no espectador pela voluntária ausência de perspectiva e pelos fundos de cores que paralizam o olho. Tem também outros recursos compositivos como olhares tortos, composições oblíquas, ângulos de visão diversos, planismos, distorções várias, personagens gigantescos e pernas em primeiro plano.

Tudo é desmedido (nada mal para o país da mesura) incluindo os longos títulos que parecem ter saído de um filme de Lina Wertmuller. “James Bond (parado) e Alfred Hitchcock (sentado) asistem  ao ar livre uma luta de titãs entre Mozart e Al Pacino”, “As promesas e os sonhos do prefeito: bela arquitetura”, “Marco Van Vasten e Roy Rogers interrompem um duelo para deixar passar uma mulher muito parecida a Gina Lollobrigida”.

De vitalidade contagiosa as pinturas têm uma procurada leviandade neste mundo no que tudo o sólido se desfaz no ar e no insuportável peso do ser. Por isso mais que tudo tem humor e ironía sutil que se distância da denuncia dramática. São virtudes que Lema Riqué tem mas que deven ter crescido em ambientes oxigenados e alegres como o brasileiro, o parisino ou o espanhol, onde se movimenta com facilidade.

 

Alicia Haber, 1993

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