Victor Lema Riqué, revelación del año | Texto Crítico
La República | Montevidéu, Uruguai | 1989
Nelson Di Maggio
É um celebrador da vida e o faz com alegre vitalidade. Escolhe as cores mais cálidas e vibrantes, o traço tem uma alta concentração energêtica disparada em todos os sentidos, os temas provem da sociedade de consumo. São grandes telas com títulos enormes: “uma linda mulher toma sol no jardim, enquanto seus amigos jogam tênis com uma laranja”, “cinco formas diferentes de comer uma coxa de frango”, “inauguração de luminoso giratório debaixo de enérgicos protestos da estética”, “batman cercado por um bando de criminosos, enquanto comprava doce de leite em recente viagem ao Uruguai”.
Suas pinturas capturam a dimensão cosmopolita, o estouro dos anúuncios luminosos das grandes urbes, o frenético dinamismo, os mitos e lendas da sociedade de consumo. Com um penetrante olhar irônico, anota com ritmo febril e esquemático os suficientes elementos que sustentam a estrutura das suas obras. Tem o fulgor e a sanidade dos “fauves” e convoca com calma a caligrafia de Raul Dufy, o ímpetu de Vlaminck, o esplendor cromático de Matisse em sintonia com a sensibilidade pós-moderna.
Os intermináveis títulos não ilustram situações como os pintores acadêmicos do século passado. Constituem um pretexto humorístico, pistas mais ou menos confiáveis para chegar paulatinamente á imagem, faze-la mais transparente e unificar literalmente o quadro. Mas Lema Riqué se encarrega de sacudir a narração e as personagens com um frenético nervosismo do desenho, a sobreposição do traço que não segue obediente o plano da cor (como Dufy), pintando diretamente da bisnaga (segundo receita de Vlaminck), e criando uma explosiva sensualidade que chega perto do erotismo. Remete ás histórias em quadrinhos, aos video-clips, aos enquadramentos de um cinegrafista, aos desenhos animados.
A férrea unidade de sua proposta não surge das zonas quantificáveis da realidade visível, mas da tensão e vitalidade de um mundo em trânsito de mudanças abruptas, surpreendentes. Com um frescor perceptivo nada comum, sem apontar para profundezas metafísicas, Victor Lema Riqué tem a faculdade primeira que se exige a todo criador: o poder de encantar, um privilégio que não abunda hoje em dia.
Nelson Di Maggio, 1989