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O Chamado de Faíscas | Texto | Mistério no Bairro: O Famosos caso do Maníaco da caixa fósforos
Galeria Nara Roesler | São Paulo, Brasil | 1997
Sofia Porto Naves e Jane de Almeida

Atacados por intensos barulhos amplificados, seres humanos se estilhaçam em pedaços de xícaras de porcelana, taças de cristais nobres, bolachas dietéticas trituradas… em dúzias, em centenas, em milhares, em bilhões de bolas de gude, rolando pelas escadarias.

 

A estratégia que desencadeia os barulhos é tão silenciosa e perturbadora como uma caixa de fósforos. Mas, quando eles estalam os ouvidos em aparições acústicas intervalares, tornam-se fantasmagóricos, marcando uma opacidade noturna na rede de comunicação habitual.

Uma inquietante estranheza se impõe, instalando o mistério ensurdecedor  ao invadir um cotidiano que não nos parece de todo incomum. Casais, irmãos, amigas e solitários figuram duplos de outros múltiplos personagens da história da literatura, do cinema e do dia-a-dia de uma constelação urbana marcada pelo excesso de paradoxos e ambiguidades.

 

Encontramos na mecânica deste conto detetivesco um chamado de faíscas. Referencialidades, estrangeirismos, excentricidades e trivialidades, tão familiares á bricolagem de nosso fim-de-século surgem, estranhos e surpreendentes em sua significação, não colocando em dúvida o caráter contemporâneo de todo o evento.

Resta-nos ainda o enigma da ressonância de sentido desta captura. Diante da amplificação, a experiência terá como destino a repetição ou chama do desejo de decifração que poderá levar um sinal na memória, um rastro sem escuta.

Sofia Porto Naves e Jane de Almeida, 1997

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